quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Guido Mantega e o Aumento da Gasolina


É uma pequena correção 
que não vai atrapalhar ninguém”
(Guido Mantega, Ministro da Fazenda,
referindo-se ao aumento nos preços dos combustíveis)


É engraçado ouvir a Petrobras e o Governo Federal informarem que o preço da gasolina estava “defasado” no Brasil e, por esta razão, o aumento de 6,6% nas refinarias foi necessário, quando em comparações internacionais, verifica-se que o preço da gasolina no Brasil já era mais alto do que, por exemplo, nos Estados Unidos e no Canadá. O preço no Brasil só é mais baixo se comparado a alguns países europeus, nos quais a qualidade de vida e a renda são também muito superiores aos números brasileiros. 

De acordo com publicação do jornal O Estado de São Paulo, de 30/01/2012, com o aumento anunciado pelo Petrobras, o preço da gasolina no Brasil será 51% mais caro do que nos Estados Unidos. A publicação informa que o preço do litro, em dólares, nos Estados Unidos é 0,96 e no Brasil 1,45. 


A estória da “defasagem” já havia sido desmentida, no ano passado (2012), pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, ele disse que “o preço do litro da gasolina, em qualquer comparação internacional, mostra nosso preço na parte mais elevada”. 



Também há de se levar em conta que o aumento no preço da gasolina e do diesel gera um reajuste em cadeia, pois o transporte e o escoamento da produção agropecuária e industrial brasileira são feitos, principalmente, por meio de transporte rodoviário. Outros produtos e serviços também se enquadram nesta reação em cadeia. 


Após o anúncio do aumento, se espalharam pela internet piadas com o fato da presidente Dilma Rousseff haver feito um grande esforço para baratear o preço da conta de luz e, logo em seguida, vir o aumento nos combustíveis. Algumas dessas piadas, coloco abaixo. Infelizmente não poderei citar as mentes criativas que arquitetaram as montagens, pois o viral da internet parece anônimo:




Embora o aumento tenha causado reações de reclamação sarcástica, ao abrir o jornal Destak nesta manhã (31/01/2013), fui tomado por indignação. 

Nas frases destacadas pelo jornal, havia uma do Ministro da Fazenda, Guido Mantegua. De acordo com a publicação, referindo-se ao aumento, Mantega disse que “é uma pequena correção que não vai atrapalhar ninguém”. 

“Ninguém” é uma palavra pouco ampla quando se fala de um país com quase 200 milhões de habitantes, de distribuição de renda tão desigual e um salário mínimo inferior R$ 700,00. 

É de se supor que, ao usar a palavra “ninguém”, o ministro aludisse a si mesmo e seus companheiros da classe política. 

De acordo com o Portal da Transparência do Governo Federal, no mês de dezembro de 2012, Mantega recebeu um salário líquido de R$ 19.852,54. Além disso, recebeu, como Verba Indenizatória*, o valor de R$ 304,00 e, como Jetons*, por participação no Conselho de Administração da BR Distribuidora, o valor de R$ 8.232,74 e no Conselho da Petrobras, mais R$ 8.246,71, o que totalizou R$ 36.635,99 líquidos. Para que não digam que estou inventando números, clique aqui para ver no site oficial do Governo e olhe o print da tela: 


Suponhamos que um cidadão comum receba líquidos R$ 678,00 (valor do salário mínimo de 2013). Este cidadão precisará de 54 meses ou 4 anos e meio para receber o que Mantega recebe em um único mês de “trabalho”, e “trabalho” mal feito, diga-se de passagem, se olharmos os números da economia brasileira em 2012. 

Só de Verba Indenizatória*, Guido Mantega recebeu mais do que os beneficiários do Bolsa Família. O benefício para os realmente necessitados varia de R$ 22 a R$ 200, sendo que a média paga é de R$ 97,00.

O ministro tem razão. O aumento não vai atrapalhar “ninguém”, se levarmos em consideração que esse “ninguém” receba o salário que ele recebe. 

Guido Mantega é mais um exemplo da capacidade que os políticos brasileiros têm de produzir frases infelizes e impensadas. Marta Suplicy, Geraldo Alckmin, Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva podem confirmar o que digo. 



Fonte:












* De acordo com o Portal da Transparência: 

- Verbas Indenizatórias são parcelas indenizatórias, tais como: auxílio natalidade, auxílio alimentação, auxílio bolsas de estudos, indenização de férias e aviso prévio, auxílio acidente de trabalho, salário educação, indenização de transporte, auxílio transporte, auxílio filho excepcional, auxílio creche / pré-escola / escola, adicional natalidade, indenização de irradiação ionizante e parcela de participação da União nos planos de saúde. 

- Jetons é a remuneração percebida por servidores públicos federais em razão da participação como representantes da União em Conselhos de Administração e Fiscal ou órgãos equivalentes de empresas controladas direta ou indiretamente pela União. 


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